sexta-feira, 2 de março de 2012

Porquê?


Existe uma idade a que se chama a idade dos porquês. Entre os 4 e 5 anos nasce a curiosidade que aliada com a inocência tudo permite perguntar. Talvez por isso, alguém se tenha lembrado de escrever um livro que me lembro da minha infância e revivo agora na infância dos meus filhos, o livro do Porquê. Porque é que o céu é azul, porque se diz que gato escaldado de água fria tem medo, porque chove?  Algures no caminho perdemos a inocência e com esta perdemos o direito de perguntar, pois cada pergunta é imediatamente coberta de assunções tais que a desvirtua, e no entanto chegamos a uma idade em que de repente nos vemos com mais dúvidas, perguntas e curiosidades do que quando éramos pequenos, e não encontramos um livro onde procurar as respostas, talvez porque as perguntas e dúvidas sendo comuns a tantos mortais são também de resposta  difícil e em alguns casos não indiferente ao detentor da pergunta.
E com as perguntas e dúvidas vem a inquietude, que não deriva de um facto ou ocorrência mas de um sentir desconcertante de falta de certezas.
Porque é que ao  ouvirmos uma música suave  quando estamos tristes parece-nos que cada letra da mesma se encaixa no nosso pensamento e nos deixamos arrastar ainda mais para o fundo do nosso estado de espirito já de si nublado?
Porque insistimos em deixar que quem nos faz mal de forma ainda que subjetiva continue a ter acesso  ao nosso pequeno mundo?
Porque é que nos isolamos dos amigos quando estamos deprimidos, se é nessa altura que mais deles precisamos?
Porque é que temos mais tempo para o que é efémero e menos tempo para o que é duradouro?
Porque não  são os laços de família indestrutíveis e de uma incontornável certeza?
Porque amamos quem não nos merece e não conseguimos sentir carinho por quem o merece?
Porque insistimos em bater em paredes que há muito deixaram de ter algo do outro lado?
Porque nos comovemos com histórias tristes?
Porque existem pessoas que mal conhecemos pelas  quais sentimos uma cumplicidade que vai para além de laços familiares, de amizade ou de qualquer outro tipo?
Porque nos é mais fácil criar novos laços ainda que fracos, em vez de investir no fortalecimento dos que já temos?
Porque não podemos escolher a personalidade que queremos ter?
Porque erramos se sabemos que o estamos a fazer?
Porque colocamos o interesse dos outros à frente dos nossos mesmo sabendo que não o merecem?
Porque temos consciência?
Porque sentimos tantas vezes que o mundo não é justo?
Como podemos ter tanta fé e não acreditar num organismo que se diz dono dela?
Porquê, porquê, porquê?
Talvez porque sentimos fundo a responsabilidade de ser parte de algo maior que nós mesmos. Talvez porque não podemos mudar quem somos, apenas mudar a forma como lidamos com essa realidade. Talvez porque poucas vezes conseguimos entender em toda a sua essência os sentimentos que nutrimos por outro ser vivo, e ainda que tentando usar as palavras amor, carinho, ternura, saudade, paixão e loucura, jamais conseguiremos descrever aquilo para qual nenhuma palavra ou frase, poema ou texto saberá cabalmente explicar. Talvez porque não podemos catalogar todas as variáveis que pautam o nosso dia-a-dia por forma a conseguir obter o resultado de uma equação. Talvez apenas a vida seja apenas um lugar de passagem onde cada um define as linhas com que a quer atravessar. Talvez, se parasse-mos por um segundo e olhássemos para dentro de nós, encontrássemos a resposta não de todos mas a nossa, a cada uma dessas perguntas.
Vou escrever neste blog a minha inquietude, vou transformar sorrisos em poemas, preocupações em deambulações pelas palavras, sonhos por prosas corridas onde os sentimentos entrelaçam as palavras e cada personagem mais que o fruto da minha imaginação é uma manta de retalhos de partilha de cada uma das pessoas que vou conhecendo ao longo desta aventura que é viver. Este é o principio de uma viagem, não como a última onde embarcava numa carruagem, e desembarcava no fim, desligando-me das histórias que imaginava em cada olhar. 
Este é o principio da história do resto da minha vida, numa partilha despida de conceitos ou regras apenas eu, simplesmente Joana.

1 comentário:

  1. Joana,

    Espero que seja este, um principio, de uma bela caminhada de escrita.
    Bem vinda à blogosfera!

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